Característica das sociedades modernas, o envelhecimento demográfico das populações é hoje em dia, um dos fenómenos que reúne mais preocupação e sobre o qual, é imperativo reflectir para agir, sobretudo ao nível das profundas mudanças que produz nas próprias sociedades e dos impactos sociais, económicos, culturais, ambientais, que tem nos territórios.
Portugal ainda não é um dos país mais envelhecidos, sobretudo, se comparado com os do Norte da Europa, mas o Alentejo, é por ventura um dos territórios europeus mais despovoados e onde os índices de envelhecimento, são superiores à média nacional: 117,9% (Alentejo) para 111,2% (resto do território), segundo dados do INE.
O Alentejo é a região do país mais envelhecida, com 102.042 jovens (até aos 14 anos) contra 175.061 idosos (22,9 por cento do total da população).
Relacionado com o isolamento há diversas perspectivas associadas, de ordem antropológicas, sociológicas, culturais e religiosas, que têm a ver com a baixa densidade populacional, o despovoamento, a falta de esperança, o envelhecimento populacional (cujos valores para alguns concelhos do Alentejo triplicam face à média nacional), e uma melancolia característica devido à baixa religiosidade no Alentejo.
Em relação ao isolamento existem vários factores que o propiciam tais como: o isolamento físico, idosos que vivem isolados em montes longe de aglomerados populacionais, o isolamento social, idosos que já não têm uma rede de amigos com quem possam confraternizar e cujos familiares vivem longe, ou ainda o isolamento devido a uma doença crónica incapacitante, "principalmente se dificultar a locomoção", e a perda do cônjuge, "sobretudo no caso do sexo masculino".
O isolamento no Alentejo dá-se em grande parte pelas perspectivas acima enunciadas mas também em grande parte pela falta de meios económicos que fazem com que muitos idosos com pensões míseras não tenham a capacidade económica para poderem ingressar em lares de terceira idade e centros de dia.
Mas o isolamento também se pode manifestar aquando a sua presença em lares e centros de dia, porque na maioria das vezes estes sentem-se afastados e postos de parte pelas suas famílias.
As alterações na pessoa do idoso devido ao isolamento trazem efeitos bastante prejudiciais, que levam o idoso a ter: um desinteresse e apatia por tudo, levam o idoso a alimentar-se mal e a sair pouco, aumentando a atrofia muscular e as dificuldades de locomoção, levam o idoso a relacionar-se cada vez menos com os seus pares, pondo fim a cadeia de relações sociais o que normalmente os leva a um quadro de senilidade muito mais frequente. Os quadros de confusão mental e de demência, que podem ser confundidos com estados depressivos ou agravados por estes, são também causa de comportamentos inadequados que podem originar quedas e outras complicações a nível físico e mental.
As pessoas idosas enquadram uma categoria de indivíduos, cujas propriedades, relativamente homogéneas, são normalmente identificadas com isolamento, solidão, doença, pobreza e mesmo exclusão social. São consideradas como indivíduos isolados, em que a dimensão familiar da identidade, da existência, permanece oculta.
As transformações ao nível da estruturação da família, do modelo de família alargada para a família nuclear, reduziram o espaço, outrora privilegiado, de solidariedade inter-geracional que garantia a protecção aos seus membros mais velhos até ao fim da vida.
Actualmente, dado os ritmos e alterações produzidas pela vida moderna (crescente participação da mulher no mercado de trabalho e vida pública; maior número de divórcios; diminuição da taxa de fecundidade; precariedade do emprego para muitos, dificuldades na obtenção de habitação adequada, etc.. ), a família vê-se confrontada com dificuldades para criar os próprios filhos, atenuadas ou agravadas, se do agregado familiar fizer parte uma ou mais pessoas idosas com maior ou menor grau de dependência.
Enquanto uns envelhecem quase sem perda de capacidades, outros sofrem de incapacidades, deficiências e doenças. Socialmente, os factores que influenciam o envelhecimento e que consequentemente os irá levar à solidão são: a profissão exercida, o nível de instrução e as condições económicas – condições sociais de existência que podem agravar o processo de exclusão social, por via da diminuição do rendimento e consequentemente do acesso a bens, serviços essenciais à manutenção das condições de vida quotidianas; e dos problemas de identidade psico-social, passagem de uma vida ritmada pelas exigências do trabalho profissional, à condição de “reformado”.
Ao contrário, quando existem elementos em situações de grande dependência de saúde ou económicas, acrescem as dificuldades da família, alterando relações de solidariedade familiar, conduzindo a família a procurar respostas na rede de equipamentos sociais.
Outros factores que estão associados à solidão dos idosos prendem-se com o facto de muitas das vezes os idosos terem carências graves ao nível económico (baixos rendimentos, pensões e reformas), a nível cultural (falta de lares, centros de dia e universidades seniores), e muitas vezes carências a nível afectivo, que resultam de maus tratos infligidos pelas famílias, as suas famílias que era suposto apoiarem-nos e protegerem-nos nestes últimos tempos da sua vida.
Quando aliados a estas problemáticas se manifestam o abandono da parte familiar a estes idosos, cria-se uma bola de neve que vai conduzir a uma ruptura com a sociedade e à solidão.
São também vulneráveis à exclusão social, pela condição de reformado, isto é, sem relação de trabalho e colegas, pela dificuldade de comunicação com as gerações mais jovens, pelo isolamento em relação à família, pela perda de autonomia física e funcional e pela dificuldade de adaptação às novas tecnologias, estes idosos refugiam-se numa solidão incomensurável.
São também vulneráveis à exclusão social, pela condição de reformado, isto é, sem relação de trabalho e colegas, pela dificuldade de comunicação com as gerações mais jovens, pelo isolamento em relação à família, pela perda de autonomia física e funcional e pela dificuldade de adaptação às novas tecnologias, estes idosos refugiam-se numa solidão incomensurável.
A escolha deste tema, cada vez mais em voga nesta nossa sociedade consumista, nesta nossa sociedade do “novo”, em que o “velho” é descartado, prende-se com o facto de alertar as consciências, porque os velhos de amanhã seremos nós, e o que encontramos hoje de bom nesta sociedade em que vivemos foi-nos deixado por esses mesmos “velhos” à custa de lutas travadas, e nada melhor do que estudar o porquê desta lenta marcha que é o envelhecimento e que em grande parte dos casos vai-se reflectir numa velhice com profunda solidão, para podermos ser hoje nós “jovens” a retribuir a essa geração que ajudou a moldar a humanidade.
Pretendemos assim desmistificar o envelhecimento, a velhice, a 3ª Idade, a solidão, mais precisamente no nosso Alentejo, porque em todo o continente nacional é a zona onde podemos encontrar mais velhos por jovens, e onde podemos verificar com toda a clareza que a pirâmide etária se encontra invertida.
Assim, podemos afirmar que chegar à terceira é apenas entrar noutra fase diferente da sua vida. E é nesta nova e derradeira fase da vida que se torna necessário um acompanhamento também diferente. Os idosos, sobretudo aqueles que têm mais carências, devem ser acompanhados por redes de apoio social, cuja principal missão é ajudar a ultrapassar os vários problemas com que se confrontam, como os cuidados básicos de saúde e higiene, a situação financeira e principalmente a solidão. Estas redes devem, paralelamente, intervir ao nível social e educativo, o que passa, sobretudo, pela animação na terceira idade.
E a animação tem uma função cultural, psicossocial e terapêutica, com vista a proporcionar uma velhice mais digna e de valorização do idoso.
Nós enquanto Animadores Socioculturais podemos e devemos enquadrar-nos dentro das diversas redes sociais e instituições que tem como principal objectivo proporcionar o bem-estar dos idosos.
Cabe-nos então a nós Animadores sermos uma mais-valia nestas instituições e redes sociais, procurando proporcionar um bem-estar a todos os níveis da pessoa humana, quer a nível físico, psíquico, cultural e social.
O animador sociocultural tem um papel preponderante nos lares e em todas as redes sociais e institucionais, uma vez que tem como principal função desenvolver actividades e criar soluções, que tenham como objectivo o incutir de responsabilidades ao indivíduo, para que este possa sentir-se novamente uma pessoa útil em sociedade e com obrigações. É fundamental envolver toda a família neste processo, para que os idosos não se sintam abandonados e depositados numa instituição. E para que os entes queridos se sintam úteis e importantes nesta etapa.
Nelson Miguens
Fernanda Rodrigues
Luzia Alfaiate
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